O trabalho ocupa um espaço central na vida das pessoas. Ele é fonte de renda, realização e pertencimento social, mas também pode ser um terreno fértil para o surgimento de sofrimento psíquico. Assédio moral, sobrecarga de tarefas, cobranças abusivas e metas inalcançáveis são fatores que ultrapassam o campo da motivação e adentram a esfera do adoecimento emocional.
Neste contexto, é preciso compreender os limites entre a legalidade e o cuidado psicológico. Até onde vai a responsabilidade da empresa? Onde começa a intervenção do psicólogo?
O trabalho como fonte de identidade e adoecimento
O emprego não é apenas uma atividade remunerada: ele estrutura a rotina, fortalece vínculos sociais e contribui para a autoestima. Entretanto, quando o ambiente profissional é marcado por pressões excessivas, injustiças ou falta de reconhecimento, o que deveria ser fonte de dignidade se transforma em um espaço de dor.
Muitos trabalhadores relatam sintomas como ansiedade, insônia, irritabilidade, esgotamento e até depressão — sinais claros de que o corpo e a mente não suportam mais a carga emocional.
O que diz a legalidade
Do ponto de vista jurídico, a legislação trabalhista brasileira protege o empregado contra abusos. Casos de assédio moral, humilhações constantes, sobrecarga sem respaldo contratual e falta de condições adequadas de trabalho podem configurar violação de direitos.
A Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) e decisões recentes da Justiça do Trabalho deixam claro: o empregador tem dever de zelar pelo ambiente laboral saudável. Não se trata apenas de cumprir metas legais, mas de respeitar a dignidade humana.

O papel do cuidado psicológico
Enquanto a lei busca reparação, a Psicologia atua na prevenção e no cuidado. O sofrimento psíquico no trabalho não pode ser reduzido a números ou processos judiciais: ele atinge subjetividades, fragiliza identidades e compromete relações familiares e sociais.
O psicólogo, seja em clínica particular ou no contexto organizacional, ajuda o trabalhador a:
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Reconhecer seus limites emocionais;
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Elaborar experiências de dor;
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Reestruturar a autoestima;
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Desenvolver estratégias de enfrentamento saudáveis.
Entre a justiça e a saúde mental
É essencial compreender que legalidade e cuidado psicológico não são esferas opostas, mas complementares. Enquanto a lei responsabiliza e busca reparação, a Psicologia oferece escuta, acolhimento e reconstrução.
O trabalhador que sofre precisa tanto do amparo jurídico quanto do acolhimento emocional, para que não fique aprisionado em um ciclo de dor e ressentimento.
Conclusão
Discutir o sofrimento psíquico no trabalho é discutir direitos, dignidade e saúde mental. Empresas precisam rever práticas abusivas, trabalhadores devem buscar apoio psicológico e jurídico quando necessário, e a sociedade como um todo precisa entender que produtividade não pode custar o equilíbrio emocional.
Mais do que nunca, o desafio está em encontrar o equilíbrio: trabalho que dignifica, sem se tornar fonte de adoecimento.
Valdivino Alves de Sousa é Psicólogo (CRP-SP 06/198683), Contador (CRC-SP 223709), Bacharel em Direito, Mestre em Educação, Matemático e Escritor. Site: www.valdivinosousa.com.br
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